segunda-feira, 30 de abril de 2012

A IGREJA UNIVERSAL


Pedro estava na casa de Simão, um curtidor. Num certo dia, enquanto lhe preparavam uma refeição, ele subiu ao terraço para orar e caiu em êxtase. Ele teve uma visão na qual vários tipos de animais apareciam e uma voz lhe dizia para comê-los. Mas reconhecendo a impureza de alguns animais, Pedro se recusa. Mas Deus lhe diz por três vezes: “Não chames impuro o que Deus declarou puro” (Atos 10,11-16).

Imediatamente pensamos que a visão de Pedro trata tão somente sobre a pureza dos alimentos ou se refere a qualquer discussão relacionada ao seguimento das restrições alimentícias contidas na Lei mosaica. No entanto, os acontecimentos seguintes nos dão uma outra dimensão dessa visão.

Depois desse evento, Pedro seguiu para a casa do centurião Cornélio. Um encontro programado por Deus e que revela um sentido mais amplo da visão do Apóstolo. Havendo Cornélio se jogado aos pés de Pedro, este porém o reergueu dizendo: “Levanta-te. Eu também sou apenas um homem.” E logo depois Pedro afirmou: “Vós sabeis que é absolutamente interdito, um judeu relacionar-se com um estrangeiro ou entrar na casa dele. A mim, porém, Deus acaba de mostrar que a nenhum homem se deve chamar profano ou impuro.” (At 10, 28)

Vê-se que o próprio Pedro entendeu que sua visão não se referia exatamente à pureza alimentícia, mas às distinções entre as pessoas. Deus o mostrou que o simples fato de ser judeu não significaria uma posição mais elevada, ou melhor, aos olhos do Senhor. E Pedro ainda disse mais: “Verifico que Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável.” (At 10, 34-35)

Pedro testemunhou a ação do Espírito Santo sobre os gentios e comunicou tudo o que ocorrera aos demais apóstolos e irmãos da Judeia. Mesmo tendo ficado surpresos, eles reconheceram que “os gentios também haviam recebido a palavra de Deus”. Terminado o relato do Apóstolo eles tranquilizaram-se e glorificaram a Deus dizendo: “Deus, portanto, concedeu também aos gentios a conversão que conduz à vida!”

Eles compreenderam a amplitude universal do amor de Deus, do Evangelho, da Igreja.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

SANTA CEGUEIRA

A conversão de Paulo de Tarso é uma das cenas mais dramáticas narradas no livro de Atos dos Apóstolos (capítulo 9). Mas só entenderemos a gravidade da ocasião se lembrarmos de que antes de sua conversão era conhecido como Saulo e que “respirava ameaças e intenções de morte contra os discípulos do Senhor”. Ele era movido pelo ódio, pediu cartas às sinagogas da cidade de Damasco para que tivesse autoridade para prender os discípulos, fossem homens ou mulheres.

À caminho daquela cidade, de repente, foi envolvido por uma luz vinda do céu. Ele ouviu a voz do Senhor a dizer-lhe: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Era Jesus, o Cristo, a lhe falar. Havendo ficado cego, permaneceu três dias sem ver, sem comer, sem beber. Só obteve a cura depois que Ananias, um discípulo em Damasco, lhe impôs as mãos e disse: “Saulo, meu irmão, quem me envia é o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, a fim de recuperares a vista e ficares repleto do Espírito Santo”. A partir de então, em tudo o que fazia, era movido pelo amor a Deus e a seu Filho.

Seria bom que de vez em quando ficássemos cegos. Sem ver com os próprios olhos aprenderíamos a ver com o coração, isto é o que importa. Porque “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”. Como bem disse Antoine de Saint-Exupéry.

Que o amor de Cristo em nós cegue qualquer sombra de ódio que ainda carregamos. Depois de curados por Cristo sejamos nós também curadores, assim como Saulo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

ENTENDES O QUE LÊS?


Encontro memorável foi aquele do apóstolo Filipe com o Eunuco (Atos do Apóstolos 8). Movido pelo Espírito Santo, Filipe pôs-se a caminho em direção a Gaza. Por uma estrada deserta, sem vacilar, ele obedeceu e partiu sem saber o que lhe aconteceria.

No meio da estrada, mais uma vez o Espírito Santo fala com Filipe e diz a ele que corra e pegue o carro que avistara. O Apóstolo se depara com um alto funcionário do Reino da Etiópia, que lia um trecho do Profeta Isaías. Filipe inicia o diálogo: “Entendes o que lês?” E responde o Eunuco: “Como poderia se não há quem me explique?” E convidou Filipe para subir ao carro, o Apóstolo lhe anunciou a boa nova de Jesus.

Neste episódio percebemos o quão importante é compreender a Palavra de Deus e daqueles que nos ensinam ela. Na explicação de Jesus sobre a parábola do semeador (Mateus 13, 23) Ele deixa que claro que quem dá fruto, e muito fruto, é aquele que ouve e entende a Palavra. Compreender a Palavra que se lê é condição para uma vida abundante em Cristo.

Uma última orientação: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a Palavra de Deus, e atentando para o êxito de sua carreira, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.” (Hebreus 13, 7-8)

domingo, 8 de abril de 2012

QUE TEM A VER ATENAS COM JERUSALÉM? (09-04-2012)

A célebre pergunta feita por Tertuliano: “Que tem a ver Atenas com Jerusalém?” serve para ilustrar o quanto que a crença na própria razão pode nos afastar da fé em Cristo. Foi, na verdade, uma forma dele expressar seu pensamento: filosofia e teologia não se dão.

No entanto, Paulo utiliza elementos desses dois ramos do saber para anunciar a Cristo. Paulo era um cosmopolita, capaz de conversar com qualquer um, mas sempre com o intuito de que fosse pregado o Evangelho. Falou a Judeus (Atos 13), a pagãos (Atos 14) e também a filósofos (Atos 17).

Em Atenas, falou a estes últimos sobre a Ressurreição. As primeiras reações são de interesse. Filósofos estóicos e epicureus o abordavam para saberem mais à respeito daquilo que ele anunciava; Jesus e a Ressurreição (Atos 17, 16-18).

Depois ele foi levado ao Areópago. Paulo encontrou na religiosidade grega um impulso para sua pregação. Ele tinha visto um altar com a inscrição: “Ao Deus desconhecido” e disse aos gregos: “O que adorais sem conhecer, isto venho eu anunciar-vos”. Então ele continuou seu discurso, que é permeado por referências a filósofos (17,28).

Embora Dionísio, Dâmaris e outros tenham se tornado crentes, a reação geral dos atenienses parece não ter sido tão boa quanto à primeira, pois ao ouvirem sobre a ressurreição dos mortos, alguns começaram a zombar de Paulo e já não queriam mais ouvi-lo (Atos 17,32-34).

Será que uma reação como esta poderia vir de crentes? Não aceitar a Ressurreição? Esquisito, mas possível; e até mesmo comum em meios que supostamente são mais intelectualizados. Ainda que a Ressurreição pareça loucura para alguns, para os que crêem em Cristo ela é imprescindível e real. Caso contrário, seria ilusória a nossa fé, ainda estaríamos mergulhados em nossos pecados e seríamos os mais dignos de compaixão dentre todos os homens (1Coríntios 15, 17-19).

Façamos como aquele Dionísio, que aprendeu a caminhar pela fé e reconheceu as limitações da razão.

O SHOW DE SIMÃO

Em Samaria vivia Simão. Ele praticava magia e vivia a iludir o povo com seus truques. As pessoas ficavam tão fascinadas que não só lhe davam crédito, mas também criam que seus atos eram uma expressão do poder de Deus (Atos 8, 9-26).

No entanto, esta mesma gente foi tomada por intensa alegria ao ouvir falar e presenciar tudo aquilo que era operado pelo poder de Deus através de Filipe (Atos 8, 1-8). Simão então percebeu que havia “mágica” mais poderosa do que a sua, um poder muito mais grandioso. Por isso acreditou e aderiu à pregação de Filipe.

Sabendo disso, os apóstolos Pedro e João foram à cidade e começaram a orar com as mãos impostas sobre os que tinham sido previamente batizados; tudo isso para que recebessem o Espírito Santo. Simão ao ver a situação ofereceu dinheiro em troca do recebimento de tal poder.

Pedro lhe respondeu: “Pereça o teu dinheiro e tu com ele, porque acreditaste ser possível com dinheiro comprar o dom de Deus! Nesta questão não tens parte nem herança, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Penitencia-te, pois, de teu mau desígnio, e ora ao Senhor; talvez te seja perdoado este pensamento de teu coração, porque eu te vejo em amargura de fel e nos laços da iniquidade”.

Este episódio ficou especialmente famoso na segunda metade da Idade Média, pois se disseminara a prática de compra de cargos eclesiásticos; a simonia. Ainda que pareça um problema distante, um olhar acurado saberá enxergar que esta heresia, e talvez outras, são revividas em alguns arraiais, em pleno século XXI.

ESTÊVÃO E AS PEDRAS


Dentre os homens escolhidos pelos Apóstolos para servir as mesas se contava Estêvão. Diácono, de boa reputação, cheio do Espírito Santo, cheio de sabedoria, cheio de fé. Servo bom e fiel.

Estêvão também se mostrava cheio de graça e de força, pois realizava grandes sinais entre o povo. No entanto, alguns adversários discutiam com ele. Sem poderem resistir ao Espírito e à sabedoria que o levavam a falar, disseram mentiras para que pudessem prendê-lo. Ao ficar diante de todo o Sinédrio o rosto de Estêvão se tornou como o de um anjo (Atos 6, 8-15).

Ele dá início a um brilhante discurso em sua defesa invocando a própria história de Israel, os presentes ficaram indignados e rangiam os dentes contra Estêvão. Porém, ele olha para o céu e cheio do Espírito Santo disse: “Eu vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus”.

A reação dos seus acusadores é cheia de ódio, dando altos gritos eles taparam os ouvidos partem pra cima de Estêvão e começam a apedrejá-lo. A reação de Estêvão é apenas uma invocação: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”; e um clamor: “Senhor, não lhes impute este pecado”. E então ele adormeceu.

A melhor resposta ao ódio é o amor. Deixemos que o amor de Deus em Cristo Jesus guie nossos atos.